segunda-feira, 1 de março de 2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

:: Criador do Trio Tapajós considera esmola R$ 60 mil do governo ::



Orlando Campos: proposta de R$ 500 mil para levar Tapajós à rua

>>Orlando Campos: "eu me pergunto o que fiz de mal ao carnaval"

A menos de duas semanas do Carnaval que homenageia os 60 anos do trio elétrico, Orlando Campos ainda não tem definida sua participação na festa. A proposta final de homenagem aos 55 anos do Trio Tapajós, apresentada pelo secretário de Cultura, Márcio Meirelles, desagradou ao criador da estrutura física do palco sobre rodas.

Depois de longa negociação, a última proposta do secretário foi a “envelopagem” de um dos quatro trios independentes do governo do estado. Este trio sairia quatro dias com uma plotagem em homenagem aos 55 anos do trio Tapajós. O cachê de Orlando Tapajós ficou estipulado em R$ 60 mil.

Apesar de ser muito aquém de sua proposta original, ele aceita o valor e o compara a uma “esmola” diante da importância histórica da sua criação para o Carnaval da Bahia. E não concorda com a utilização da marca Tapajós nos quatro dias. Orlando aceita a veiculação do nome somente no sábado de Carnaval, quando será homenageado no trio de Luiz Caldas.

Na rua - “O que eu mais quero é ver o trio Tapajós na rua”, disse ele, informando que vai entrar em contato com amigos, artistas e políticos para tentar viabilizar a saída de um dos mais tradicionais nomes do Carnaval da Bahia. Como arma, ele mostra um bilhete escrito a mão por nada menos que Osmar Macedo, datado de 28 de novembro de 1994, no qual ele pede a Orlando “para não deixar nossa invenção morrer”. “Osmar ficou 11 anos afastado do Carnaval e eu segurei as pontas”, disse.

Orlando Tapajós conta que entregou uma proposta ao governo do Estado para levar o Tapajós à rua depois que soube que o projeto apresentado por Carlinhos Brown para levar sua outra criação, a Caetanave, não havia sido aprovado. “Nossa proposta chegou ao gabinete do secretário da Cultura no dia 18 de janeiro, e no dia seguinte à Casa Civil e à Governadoria”, informou Orlando Filho.

Segundo ele, a proposta era de R$ 500 mil para levar o trio Tapajós à rua. Este valor foi reduzido algumas vezes até chegar a R$ 300 mil. A contra-proposta final do governo foi um cachê de R$ 60 mil e a utilização de um dos trios pagos pelo governo para uma homenagem.

“O governo está fazendo o possível”, garantiu Márcio Meirelles. Segundo ele, quando foi recebida a proposta, o orçamento já estava fechado. “Como poderíamos inserir um custo de R$ 500 mil fora as atrações?”, questiona.

O secretário lembra que a atribuição de organizar a festa é do Conselho do Carnaval. “Ao Estado só cabe organizar a demanda. A homenagem deveria ter sido planejada pela prefeitura”.

A TARDE não conseguiu contato com o presidente do Conselho do Carnaval, Fernando Boulhosa.  

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

:: Curiosidades da Música Popular Brasileira ::


A primeira composição em versos brancos (sem rima), considerada pelos pesquisadores é “Súplica”, de José Marcílio, Otávio Gabus Mendes e Déo, gravada por Orlando Silva: “Aço frio de um punhal foi seu amor pra mim/ Não crendo na verdade implorei, pedi/ As súplicas morrerão sem eco, em vão/ Batendo nas paredes frias do apartamento”.

Caboré foi um crioulinho que ensinou Orson Welles a tocar caixa de fósforos quando o famoso cineasta esteve no Brasil.
O primeiro “jingle” (anúncio musicado) foi lançado no rádio em 1932, feito por Nássara, para a Padaria Bragança.
Garota de Ipanema é a décima-segunda música mais tocada no mundo dos Últimos cinqüenta anos.
“Deixa isso pra lá” que lançou Jair Rodrigues para o sucesso foi recusado por Simonal, que não gostava de samba.
O primeiro brasileiro a gravar na Europa foi Josué de Barros, o descobridor de Carmem Miranda, na Alemanha, solo de violão.
Alguns compositores que também eram médicos: Max Nunes (Bandeira Branca), Joubert de Carvalho (Taí, Maringá), Alberto Ribeiro (Copacabana, Chiquita Bacana), Dalto (Muito Estranho), Aldyr Blanc (O bêbado e o equilibrista).
“Ponteio” consagrou Edu Lobo na Voz de Marília Medalha. O autor no entanto não fazia nenhuma fé na cantora.
O Hino do Flamengo de Paulo Magalhães (Flamengo, Flamengo, tua glória é lutar) é posterior ao de Lamartine Babo (Uma vez Flamengo, sempre Flamengo) e foi cantado pela primeira vez em 1959 no Maracanã.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

:: Calazans: contra baixo astral ::


O contrabaixista Luciano Calazans, sem dúvida um dos melhores do país, prefere uma definição mais abrangente, se definições forem necessárias: “Eu sou músico”. Dono de um estilo marcadamente peculiar, nesta entrevista ele confessa que já quis tocar como John Patitucci, baixista de Chick Corea, mas que, ao ser comparado com o original -por Leo Gandelman- e ganhar o apelido de Patetute, preferiu ser ele mesmo: Luciano Calazans. Portador de uma memória afetiva totalmente ligada a páginas musicais, Calazans faz um vasto passeio pelo passado revelando um tipo de nostalgia que, entretanto, não o engessa nem incompatibiliza com o presente. Do Rock’n’Roll da lendária banda Zé da Eskina, passando pelos forrós do disco As Canções de Eu Tu Eles, que gravou com Gilberto Gil, ele chega até o Axé de Festa, consagração de Ivete Sangalo. “Bell Marques achou que eu estava tirando sarro quando eu disse que ele me influenciou”. Bom papo! 


James Martins – Eu quero que você comece falando, como sempre, como foi que você descobriu a música e se descobriu como músico, independente de carreira. A sua relação com a música. 

Luciano Calazans - Eu me descobri como músico desde que comecei a perceber que tinha música no mundo. Não estou hiperbolizando... mas meu pai era músico -ele é vivo, mas eu digo era porque ele não é mais atuante. Então, meu pai tocava e eu ouvia todo tipo de música em casa, com meu ele e minha mãe: de Waldir Azevedo a Júlio Iglesias. E como eu sempre fui uma criança curiosa, eu ouvia prestando atenção. Meu pai tinha discos de “Armandinho, Dodô & Osmar” e me levou para vê-los tocar em diversos lugares. Mas até os meus 12 anos de idade eu não tinha planos de ser músico, né?  Eu já tocava, inclusive flauta doce, comecei a tocar violão com 10 anos, mas sem planos de ser músico. Eu lembro tudo da minha vida desde os meus quatro anos (risos)... mas assim, tudo, tudo mesmo. Então é por isso que eu tô falando que desde que eu entendi o que era música, quando comecei a assimilar os sons, seja em rádio, seja em tape (fita cassete), ou disco de vinil, eu comecei a gostar. Tanto é que várias músicas têm uma interferência particular em minha vida. Por exemplo: uma música de Phill Collins que me lembra um momento da minha infância. Aquela música Woman de John Lennon, por incrível que pareça, uma coisa que não tem nada a ver, mas eu lembro de minhas travessias quando criança, pegando o ferry boat para ir à ilha de Caixa Pregos... 

JM – Mas e dessas coisas que você foi ouvindo, quais foram os artistas que mais te marcaram e mais te interessaram na infância? 

LC – Os de choro, chorinho. Os Beatles... eu comecei a perceber o contrabaixo por causa de uma música dos Beatles, que eu não sei o título, mas se eu cantarolar aqui você pode procurar na internet [cantarola], foi com essa música dos Beatles [por sinal, eu não achei a tal música na internet] que eu despertei para o instrumento, porque eu já via meu pai tocando contrabaixo, já sabia qual era o som, então eu já consegui focar o que ele marcava [simula os sons graves do instrumento com a boca]. Waldir Azevedo; Pixinguinha muito; Nelson Gonçalves; Júlio Iglesias; Christopher Cross... eu tô misturando o que minha mãe ouvia também, né? E tudo de Jovem Guarda que você imaginar. Muito Roberto Carlos, excesso de Roberto Carlos. Isso eu estou falando da infância, né? Excessivamente Roberto Carlos. 

JM – Você morava onde nessa época? 

LC – Eu nasci no Hospital Santa Isabel, em Nazaré, mas eu morei a maior parte da minha vida, 80% da minha vida na Liberdade. Outra coisa que eu ouvia nessa época era Luis Guedes e Thomas Roth, não é uma coisa muito conhecida, mas eles são parceiros e têm muitas músicas gravadas pelo Roupa Nova. Djavan, que tava nas paradas. Caetano... tudo isso na minha infância eu ouvia e tenho lembranças de momentos associados a essas canções. Por exemplo, uma coisa até meio mórbida, aquela música Você É Linda, de Caetano, que é do disco Cores-Nomes, eu também tenho boa memória pra essas coisas de disco... 

JM – [Interrompendo] Não, não, Você É Linda é do disco UNS, aquele que tem ele, Dedé, Seu Zezinho e D. Canô na contracapa. 

LC – Não. Linda é Cores/Nomes, que tem Ele Me Deu Um Beijo Na Boca... eu tenho esse disco. 

JM – Ele Me Deu Um Beijo Na Boca é de Cores/Nomes, mas Você É Linda é de UNS. Mas vamos continuar.  

LC – Pois é, a gente pode procurar depois na internet, mas eu tenho uma lembrança mórbida com essa música, de um amigo meu de infância que morreu no dia 25 de agosto, atropelado, eu tava com nove anos e ele tinha 11, no dia 25 de agosto de 1983 ele morreu e no dia do enterro tava tocando essa música na rádio. Então toda vez que eu ouço essa música eu associo àquele momento. Isso já é uma coisa que a música sempre foi entrando em minha vida, de uma forma ou de outra, como se fosse um elixir, cada momento da minha vida, cada segundo, cada minuto, tem uma música que tem a ver. Depois, na adolescência eu comecei a enveredar pra coisa do Heavy Metal, que também tem momentos que eu lembro com músicas do Iron Maiden, depois passei a enveredar pro Jazz... na verdade eu sempre gostei de ouvir música, qualquer coisa, tudo, tudo, tudo. E isso foi crucial na minha formação. Ajudou muito quando eu comecei a minha carreira profissional aos 13 anos, que foi tocando baile. E baile, pra qualquer músico é muito bom. Quem dera todo músico hoje em dia tivesse baile como escola, porque o cara ali tem obrigação de tocar tudo. Mas era uma obrigação gostosa pra mim. Tocava de 11 horas da noite, dava uma pausa às duas da manhã e voltava a tocar até as cinco. O repertório era vastíssimo, de trezentas, quatrocentas, quinhentas músicas. E não eram compilações, medley, eram as músicas inteiras. E eu como eu já tinha ouvido de tudo e sempre fui uma esponja pra isso... Mas é claro que houveram músicas que eu detestava, dizia ‘essa música eu não gosto’, e não gosto mesmo e acabou, desde criança. Aquela por exemplo [cantarola] “Aquela nuvem que passa lá em cima sou eu (...)”, essa música eu nunca suportei e nem vou suportar. Mas toquei ela, né? Toquei em banda baile. Para mim não existe esse negócio de música brega, nem música chique. Para mim existe música bem feita, bem elaborada, esmerada, ou não. 

JM - E a sua relação com o contrabaixo, como começou? E quais os contrabaixistas que te foram fundamentais, para o bem e para o mal, os que você admirou e os que serviram como exemplo de tudo o que você não pretende fazer no contrabaixo? 

LC – Isso do que eu não gostaria de fazer no contrabaixo eu prefiro não responder. Na verdade eu vou responder sim, porque o que eu não gostaria de fazer no contrabaixo eu também gostaria de fazer no contrabaixo. Eu não vou mencionar os nomes dos baixistas que eu ‘não faria no contrabaixo’, mas eles também foram e são necessários para eu tocar da forma que eu toco hoje. Naquilo que há de ruim a gente pode tirar algum proveito. E se a gente pode tirar algum proveito do ruim, então quer dizer que não é de um todo ruim, não é isso mesmo? Mas baixistas... eu tenho que colocar uma coisa sobre isso, que antes de ser baixista eu sou músico. Primeiro eu coloquei na minha cabeça que eu sou um músico. Eu sempre gostei de qualquer instrumento, qualquer coisa relacionada à música. Mas vamos lá, é uma cacetada de baixistas. Vou fazer cronologicamente. 

JM – Então vamos lá, começando pelo começo. 

LC – Meu pai foi uma influência né? Aí vêm os baixistas aqui da Bahia (por que eu conheci muitos lendo a ficha-técnica dos discos, coisa que eu sempre fiz): Carlinhos Marques, não só como baixista, mas ele é também um excelente compositor, arranjador. Quando eu tinha uns 10 anos de idade eu ouvia tudo que ele gravava e ele gravava quase tudo aqui. Ele era o baixista da banda Acordes Verdes, de Luis Caldas. Chegou uma fase que eu já sabia que era ele que tava tocando só de ouvir. Teve também Otávio Américo; Rui Lima; Cesário Leone, que eu vim conhecer mais tarde, já na fase de adolescente. Esses que eu tô falando são da minha fase infantil, certo? Teve também Bell, do Chiclete com Banana. Eu falei isso pra ele e ele não acreditou. 

JM – Falou o que? 

LC – Falei que ele, de uma certa forma, teve uma influência sobre mim. E ele achou que era chacota, piada... mas não é não (risos). Só que eu não tinha esse discernimento do que era baixista, pô! Só de o cara tocar contrabaixo, entendeu? Não estou falando aqui de técnica, mas de coisas da infância, que me chamaram a atenção para o instrumento. Agora o que eu ouvi mesmo e adorei, vou dizer, Beto Guedes tocando baixo, até hoje eu gosto. Paul McCartney. Betinho, do ‘Armandinho, Dodô & Osmar’, eu era doido quando era guri. Tem uma cacetada, que ninguém vai conhecer quando eu falar. Gigi, Natinho, que tava no Ara Ketu até pouco tempo. 

JM – E esses baixistas de Jazz, como Charles Mingus? 

LC – Aí já é outra fase, na adolescência eu comecei a enveredar mais por essas coisas da música clássica, fusion, rock’n’roll... A gente vai chegar lá, mas eu tô indo por partes, calma. Antes teve Steve Harris, do Iron Maiden. Posso falar nacional? Leoni, que era do Heróis da Resistência. Eu não sei o nome do baixista da Plebe Rude, mas ele me influenciou. O Renato Rocket, que tocou com Marina, Renato Russo. Luizão Maia, que eu conheci antes de conhecer Arthur. Jamil Joanes também, que gravou o disco Luar, de Gilberto Gil, todo. Sizão Machado. Rubão Sabino. Didi Gomes. E por aí vai... são muitos porque a minha coisa brasileira é muito viva, muito forte. Ah [lembrando de repente] Bi Ribeiro, do Paralamas. Ele também, eu conheci, fui elogiar e ele achou que eu tava fazendo gozação da cara dele (risos). 

JM – Como foi isso? 

LC – Eu tocava com Ivete Sangalo e teve uma entrega de prêmios da MTV, e aí na festa, porque naquela entrega ali não tem nada de festa né? Não existe bebida alcoólica, nada, é uma coisa super careta assim, só pra entrega dos prêmios mesmo. Mas depois da entrega, vai uma galera para um outro lugar e aí rola uma festa pra ninguém botar defeito... não falta nada (risos). Aí eu lembro que me aproximei de Bi, na cara de pau, pra falar com ele como um tiete mesmo ‘rapaz, eu sou louco por você tocando contrabaixo, você é uma referência pra mim’, aí ele falou ‘você tá tirando sarro de mim? Você é virtuoso rapaz, eu vi você tocando’. Não acreditou não. Caetano passou nesse momento e ele reclamou com Caetano, dizendo ‘esse cara tá gozando da minha cara aqui’. E ele falava sério! (muitos risos). Pedro Ivo, que tocou com César Camargo Mariano. E ó, se eu esqueci algum que me perdoe. 

JM – E outra coisa, você falou em ficha técnica, mas são poucas as pessoas que se interessam por quem fica mais atrás, como os músicos. Você se sente escondido, por exemplo, tocando com Ivete Sangalo? Quem aparece é sempre o cantor, como se os outros sons viessem do além.  

LC – Aí é uma bandeira que... antigamente era uma coisa mais propícia às pessoas que queriam se intelectualizar, de certa forma, pegar a ficha técnica e tal. Isso existe em cinema também, você querer saber quem dirigiu o filme, não só saber quem tá protagonizando, mas saber quem fez o roteiro, isso é interessante. É interessante saber quem é o autor do livro que você leu, não só achar o livro maravilhoso, mas conhecer o autor. Mas eu acho que hoje, no mercado da música, as pessoas prestam sim atenção nos músicos, procuram saber... e na realidade todos são músicos né? Todos são artistas... não existe essa coisa de separar. Músico é artista. Músico trabalha com arte, certo? Então, quem aparece, quem tá frente... esse é um modelo tão pobre, na minha opinião, agora falando aqui da Bahia, porque eu não vejo isso em outros estados, me perdoe se eu estiver sendo ignorante aqui, mas eu vejo isso como uma coisa bem da Bahia, a banda tem um nome e sai no outdoor só o croonner, o cantor, não existe mais aquela coisa do grupo, como é o Roupa Nova, Os Paralamas do Sucesso, como eram os Titãs. Ali, cada fã focava em um componente, tinha afinidade com quem quisesse, mas todos os nomes eram conhecidos. Hoje em dia existe uma institucionalização do cantor como a referência pro trabalho, o que não é nem necessário, porque quem tá ali na frente já aparece mais mesmo. Às vezes as obras nem são dele e ele aparece mais, o que é inevitável, por isso eu acho grosseiro botar só o cantor no outdoor, já que o grupo é o grupo. O Iron Maiden, por exemplo, não tinha Bruce Dickinson na capa sozinho. 

JM – E falando agora do seu disco, Contra Baixo Astral, qual a diferença fundamental do seu trabalho solo para o de músico acompanhante? 

LC – Eu acho que por ter sido tão heterodoxo na coisa do ouvir tudo, visualize, coloque todas essas referências num funil, e vem descendo e chega em mim assim. Mas lembrando que nem chegamos nos baixistas internacionais né? 

JM – É verdade, eu tô pulando... (risos) 

LC – Você tá ansioso... Mas tudo bem, eu nunca fui muito de ‘tirar’ o que os outros baixistas faziam, nunca fui. Eu sempre ouvi, ouvi muito. O Keith Richards, guitarrista dos Rolling Stones, falou uma coisa que é muito interessante: “o músico é 70% o que ele ouve”. Eu concordo com isso. Eu tenho um roqueiro dentro de mim, tenho um sambista dentro de mim, tenho um chorão dentro de mim... Aliás, eu tô falando assim, separando esses rótulos, mas pra mim eu sou músico e músico é aquele que toca qualquer coisa. Podem haver especialistas, como existem em todas as áreas. Na medicina existe o especialista em olhos, em nariz, ou então o clínico geral. Eu prefiro ser o clínico geral. Eu toco Jazz, mas não sou jazzista. Toco samba, mas não sou sambista. Toco pagode, mas não sou pagodeiro. Toco Rock’n’Roll mas não sou roqueiro. E tudo isso que eu falei eu toco com amor. Aí então, teve uma fase na minha vida em que eu ouvi muito John Patitucci, que tocava com Chic Corea, e realmente eu comecei a querer tocar igual a ele, e o Leo Gandelman, que veio fazer uma apresentação com Margareth [Menezes] no Carnaval de 1994, já conhecia meu som porque eu já tinha gravado o disco de Margareth, Luz Dourada, aí ele chegou pra mim e disse, com aquele sotaque carioca ‘mas tu parece o Patitucci tocando’. E daí surgiu o apelido ‘Patetute’, misturando Pateta, por causa da aparência, e fizeram uma junção dos dois nomes e deu ‘Patetute’. Eu fiquei meio puto da vida com isso de ficar parecendo com outro artista e desde então eu não quis mais ouvir (risos) Patitucci. Hoje, quando eu paro pra praticar, que é uma coisa crucial em minha vida praticar o instrumento, como um atleta precisa, eu, que tenho influência de milhares de artistas, vejo que consegui o que eu sempre quis que é ter o meu próprio som. E a única vez que eu ouvi alguém falar que eu parecia com outro artista foi naquela vez em 1994, porque desde então o que acontece é que tem gente que ouve e diz ‘sabia que era você que tinha gravado isso’, pelo estilo. E tem coisas que eu não gravei e algumas pessoas vêm perguntar se fui eu por achar parecido... Isso me deixa muito feliz, não tem grana que pague, saber que eu tenho um som peculiar. E quando você ouve o meu disco, o Contra Baixo Astral, dá pra perceber quem tem vários baixistas tocando em um só disco, embora seja também um só baixista. O disco é uma síntese do que eu sou. 

JM – E esse nome é muito bom. Quem escolheu, você mesmo? 

LC – Esse nome foi o meu irmão Cássio que sugeriu quando eu tinha 15 anos e ele 14. Eu já sonhava em fazer um disco e Cássio, que era meu companheiro de muitos papos, durante uma conversa disse que o nome do disco tinha que ser Contra Baixo Astral. E eu nunca esqueci disso, veja como é a coisa da memória.

JM – Então seguindo nessa coisa de memória, complete a lista dos baixistas com os internacionais. 

LC – Jaco Pastorious, não só pelo baixo, mas pela atitude no instrumento. Esse tá na ponta. Aí vem Anthony Jackson; Louis Johnson; Mike Porcaro… Anthony Jackson, inclusive foi fundamental pra mim na coisa do querer solar demais e fazer acompanhamento, porque ele mesmo acompanhando sola, faz a base solando, então quando eu o conheci foi um boom para mim. Patitucci, outra referência. Esqueci de falar, entre os brasileiros, de Nico Assunção, que foi muito importante pra mim. Eu quis ter baixo de seis cordas por causa de John Patitucci e Nico Assunção. Mas vamos lá, Billie Sheeham. Victor Baileye muito outros... Tenho influências de tantos... 

JM – E quando você tava falando das bandas eu lembrei da extinta Zé da Eskina. Como foi que começou e porque acabou? 

LC - O Zé da Eskina, na época da formação comigo, com Cássio e com Ed, nós já tocávamos juntos desde pequenos, de guri. Eu me profissionalizei antes de Cássio, Cássio veio depois na coisa profissional, mas antes disso nós tocávamos lá na Liberdade, tínhamos um repertório assim... enquanto eu tava muito enveredado para o Jazz e ouvia mais Rock’n’Roll de fora, e como a nossa geração muita gente se interessava por política, até pela fase que o País passava, eu participei das primeiras eleições diretas pra presidente e bebi muito dessa fonte, Cássio bebeu, todos beberam... E esse grupo sempre se reunia sem pretensão nenhuma, só pra se divertir lá na Liberdade, dentro de um apartamento e era muito bacana porque a vizinha de baixo não podia reclamar já que o filho dela também ía lá pra cima e a gente tocava um repertório com quase tudo dessas bandas dos anos 80: Paralamas; Plebe Rude; Ultraje a Rigor!; Zero; Legião; Barão Vermelho... tudo mesmo que você imaginar... RPM... Eu com 12 anos, Cássio 11, meu pai nos levava pra tocar no auditório da Coelba -que ele trabalhava lá- e a gente era a atração. E como Cássio sempre gostou de escrever, independente de tocar, começamos a fazer nossas próprias músicas. E em 1995 nós fomos ao MAM, eu, Cássio, Pigmeu e Ed, brincar de tocar num evento chamado Bar Cultural, que enchia de gente. Fomos só dar uma canja. Só que começamos a tocar as coisas do passado que todo mundo lembrava, coisas da banda Erva Doce, sabe qual é? A música Erva Venenosa é da Erva Doce. Aí começou a história de fazermos uma banda mesmo, que colocamos o nome de Nerds, por causa de uma série de filmes Os Nerds Atacam de Novo, Nerds não sei o que... Aí o evento foi transferido para a Praça Tereza Batista, e para você ter uma idéia, as bandas tinham que solicitar pauta, mas os Nerds não precisavam disso não, os Nerds eram da casa, todo mundo esperava a gente tocar. E aí gravamos as músicas próprias, como os Nerds ainda, como profissionais mesmo. Depois os Nerds acabou e Cássio, que já era louco pelo Nirvana, resolveu fazer uma banda assim... ele teve muita influência nisso. E o Zé surgiu assim, Cássio falou Zé e eu completei: da Eskina. E formamos a banda, um trio, porque Pigmeu já não quis mais fazer parte. E gravamos, porque eu chamei Alexandre Lins, que é produtor de todos os discos de Ivete, para ouvir o som da banda, ele foi e gostou e resolveu investir. E como sempre trabalhamos com Wesley Rangel, tivemos a WR para gravar. A banda foi um sucesso da noite de Salvador. Fomos tocar num festival em Aracaju, a convite de Pitty, que ainda tava no Inkoma. 

JM – Para mim uma canção muito marcante de Zé da Eskina foi ‘O Crack e a Miséria’. 

LC – Ah sim... ele faz uma brincadeira com o craque do futebol e a droga, é inteligente. Pois é, a história do Zé é mais ou menos isso... lotávamos o Calypso. 

JM – E falando nisso, como você a cena do rock atual em Salvador? 

LC – Eu não tenho acompanhado o que tem acontecido nos porões de Salvador, mas de uma coisa eu tenho certeza, o que acontece aqui em Salvador, do Rock’n’Roll, na música -que eu não gosto de chamar assim, mas tenho que chamar para as pessoas poderem entender- alternativa, a música baiana alternativa... o que acontece é muito autêntico e muito bom. Existe uma criatividade aqui excepcional e que não existe em São Paulo, por exemplo. Eu não tenho medo de falar isso. Só que o espaço para essas bandas daqui é pequeno e essas bandas precisam ir para São Paulo, ou Rio, pra propagar o trabalho... quando conseguem, né? Pitty foi uma exceção, mas tem um apanhado de coisas, que são resistentes e criam de verdade. Agora eu não sei a coisa da atitude. Porque tem essa comparação com Pernambuco e parece que os pernambucanos têm mais essa atitude de mostrar as coisas... Eu não sei... Eu também não tenho acompanhado muito, porque o berço mesmo é no Rio Vermelho, não é? O que eu sei é que os roqueiros têm investido muito na guitarra baiana, nas marchinhas de carnaval... Eu não entendi muito onde eles querem chegar com isso, mas pra coisa ruim não deve ser. Retrofoguetes é muito bom, desde antes de ser Retrofoguetes eu já gostava como Dead Billies, ainda que não fosse uma coisa nossa... mas tudo é nosso, a música é nossa... eu achava muito original. 

JM – E das coisas que você gravou, acompanhando, quais foram as que você mais gostou do resultado final?

LC – O disco de Gilberto Gil, [As Canções de] Eu Tu Eles. Esse disco foi inesquecível, para mim. Inclusive eu fiz alguns shows, substituindo Arthur [Maia], e para mim foi inesquecível. Gil é maravilhoso. Ele deixava a gente muito livre... falava sobre as composições, toda a concepção. Outro disco que foi bacana que eu gravei foi o primeiro de Ivete [Sangalo]. No segundo eu gravei a música Festa com ela e gostei dessa música. Porque? A música é uma música comum, mas o arranjo foi bem elaborado e para mim, quando tava gravando foi sem voz guia no estúdio e foi uma música que seria apenas complementar no disco e eu nunca poderia imaginar que ela seria o carro-chefe e que iria consolidar Ivete como um fenômeno da música brasileira. Foi a partir dali que deu um boom na carreira dela. 

JM – E é uma música dessas que falam de mistura: “guitarras de rock’n’roll / batuque de candomblé”. 

LC – É, é uma música interessante, mas não tinha letra quando eu tava gravando. O arranjo foi de Letieres Leite e eu lembro de Davi Moraes ao meu lado, Cesinha, que tocava com Vanessa da Mata, foi um time bom que gravou! E para mim a música era só tá-tum-tá-tum... E eu fiquei pensando: ‘numa terra onde só tá rolando Axé de cunho apelativo e tal...’ Foi de muita importância essa gravação também. E agora, teve um disco que eu produzi, todo, produzi, arranjei e foi muito bacana! O disco de Belô Velloso, Versão Brasileira. Foi feito com muito esmero e foi muito bem recebido pela crítica do Brasil todo. Ficou por seis semanas em primeiro lugar no top do UOL Megastore, antes de o disco sair. E esse disco tá circulando por aí na internet. E foi um disco bem elaborado. 

JM – E como é a sua relação com o Carnaval, digo como folião? 

LC – Nunca fui folião, nunca. Mas não digo isso com orgulho, eu gostaria muito de ter sido. Mas nunca tive tino pra isso. Sempre tive uma timidez e até hoje eu sinto vertigem em lugares com muita gente. Mas eu observava o carnaval da marquise de uma casa lá na Carlos Gomes e lembro de Luis Caldas passando com a banda Acordes Verdes, com Carlinhos Brown tocando com ele ainda. São momentos memoráveis da minha vida. Folião eu nunca fui, mas a minha relação com o carnaval é assim... como eu poderia descrever? Eu tenho pavor e ao mesmo tempo fascínio. 

JM – E daqui pra frente? 

LC – Eu tô até concebendo o meu segundo CD, sem pressa nenhuma. E 60% dele vai ser orquestrado. Eu tô escrevendo ele meticulosamente... trabalhando muito e dormindo pouco. Até porque, paralelo a esse disco eu tenho outros trabalho pra arranjar. Se você quiser eu posso te mostrar um pouco e você comenta depois na sua coluna. 
[o laptop de Luciano Calazans estava recarregando a bateria e por isso eu não ouvi nada do novo som. Pena! Também por isso não conseguimos conferir na internet se a canção Você É Linda, de Caetano Veloso, está no disco UNS (como eu disse) ou em Cores/Nomes (como disse o baixista). Mas como a dúvida nos incomodasse muito, Luciano ligou para a sua amiga, a cantora Mônica Sangalo, e perguntou. Ela conferiu por lá, no seu acervo, e acabou constatando o que eu dissera: Você É Linda foi gravada originalmente no disco UNS – de 1983. Eu fiquei orgulhoso da minha memória e o Luciano pediu pra mencionar a Mônica Sangalo, uma grande artista! Aí está.]

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

** BONEKA TAGARELA **


A BONEKA TAGARELA, Banda mais louca do axé music é pilotada pela voz marcante e o alto astral da vocalista Krisley Angley (Kiki), 25 anos.
 A estréia de “Kiki” nos palcos aconteceu em Laguna (SC), aonde descobriu que o axé falava mais alto em seu coração. O tradicional Trio Local era algo meio fora do normal. 





- Um Trio Parado? Perguntou a cantora.
- Quero um Trio que ande!
Pedido concedido! O Sonho foi Realizado no dia 14 de setembro de 2008, onde Kiki fez seu primeiro show em um trio "ANDANDO”, puxando mais de 400 MIL pessoas na Avenida 7. Uma experiência única e mais que o suficiente para que ela concretizasse seu amor pelo Axé.

A BONEKA TAGARELA surgiu em 2009 com a verdadeira junção do nome à personalidade marcante da Kiki. A banda conta com a bonequinha no comando, com muito carisma e empolgação.

A cantora veio percorrendo Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro até chegar à terra tão esperada por ela, a BAHIA.


Com várias bandas de baile e pop em seu currículo desde os 17 anos,adquiriu experiência e tornou-se a mulher especial que é. 


Kiki deixou a família em Palhoça SC, sua terra Natal, para seguir seu sonho de Cantar em um “Trio Elétrico que anda!” Rrs!!
E seu alto astral, carinho, dedicação e amor à música serão certamente o combustível ideal para que a cantora faça andar esse trio elétrico ...


Todos os Artistas Baianos... Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Bell Marques, Netinho, Armandinho,  Etc...Etc...Etc...Todos nos influenciam!
A influência é de todos que respiram música.

Cada nota de cada artista nos deixa uma influencia!












domingo, 13 de dezembro de 2009

.:: JAM no MAM ::.



IMPROVISAÇÃO AO INFINITO
MAM-BA e a Huol Produções apresentam todo sábado o projeto JAM no MAM, que traz o melhor do clássico ritmo norte-americanono tradicional formato da “jam session”: tema e improvisação.

O baterista Ivan Huol é quem comanda o encontro, que conta com a participação de jovens músicos e profissionais que são referência no mercado local. A 
JAM no MAM é um dos poucos espaços na cidade para a prática do jazz com total liberdade musical, pautada somente pelo exercício infinito da improvisação. Na banda-base, acompanham Huol os músicos Ivan Bastos (baixo), Paulo Mutti (guitarra), André Magalhães (piano) e André Becker (saxofone). 



Todo sábado, das 18h às 21h, no Estacionamento Inferior do MAM
Ingresso: R$ 4 inteira | R$2 meia 
Informações: 3117–6065

MAIS MAM
Aos sábados, até as 21h

As salas expositivas do museu ficarão abertas todos os sábados até as 21h para que, além da JAM no MAM, o público possa conferir as mostras em cartaz.

Entrada franca
 

sábado, 12 de dezembro de 2009

:: Rita Lee ::

RITA LEE
Rita Lee ocupa um espaço único dentro do universo da música popular brasileira. De seu repertório faz parte, além do enorme talento, uma grande dose de ecletismo pois, como filha legítima do Tropicalismo, Rita desfila sem pudores pelas mais diversas avenidas musicais, desde rock pauleira até bossas, baladas românticas e latinidades.

Além dos inúmeros sucessos que compôs para ela mesma, teve também suas músicas gravadas por artistas do calibre de João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Simone, Ney Matogrosso, Zizi Possi, Marisa Monte, Marina Lima, Zélia Duncan, Cássia Eller, Paula Toller, Henri Salvador, Frank Pourcel, Paul Mauriat, Gloria Estefan, Yael Levy, entre muitos outros. Em 39 anos de carreira, Rita realizou uma multitude de apresentações pelo planeta.
Rita Lee nasceu em São Paulo (capital) no dia 31 de Dezembro de 1947, sob o signo de Capricórnio, ascendente em Aquário e lua em Virgem. Filha caçula de Charles Fenley Jones e Romilda Padula Jones teve duas irmãs: Mary Lee e Virginia Lee. É casada com o músico e compositor Roberto de Carvalho desde 1976 e tiveram três filhos: Beto (27), João (25) e Antônio (23).
Apesar de sonhar em ser médica veterinária ou atriz de cinema, Rita desde pequena tinha paixão pela música e chegou a ter aulas de piano com a famosa concertista Madalena Tagliaferro. Mais tarde, já na escola, formou um grupo só de garotas chamado Teenage Singers (1963). Em 1964 participou do Tulio Trio, depois do grupo Six Sided Rockers, que no ano seguinte mudou o nome para O'Seis e lançou um compacto com as músicas "Suicida" e "Apocalipse". No final de 1965, com a saída de alguns integrantes e entrada de outros, o grupo mudou o nome para O Konjunto. Quando a formação da banda se reduziu a apenas um trio surgiram Os Bruxos que logo a seguir foram rebatizados de Os Mutantes, grupo do qual Rita fez parte de 1966 a 1972. Os Mutantes fizeram sua primeira apresentação no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967, acompanhando Gilberto Gil na música "Domingo no Parque". Fizeram parte do núcleo de fundadores do Tropicalismo, juntamente com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Rogério Duprat e outros artistas de peso. Junto com os Mutantes, Rita marcou presença e imagem fortíssimas nos famosos festivais de música da época, onde seu talento, sua beleza e carisma sempre foram centro das atenções. Gravaram juntos 6 discos, entre eles o recém-lançado "Technicolor". A última apresentação de Rita com Os Mutantes aconteceu no VII FIC, em 1972 no Rio de Janeiro.
Paralelamente aos Mutantes, Rita lançou em 1970 e 1972, dois álbuns solos: "Build Up" que traz o seu primeiro grande sucesso "José", além de "Sucesso Aqui Vou Eu" ( uma psicografia dos tempos que ainda estavam por vir?) e "Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida".
Em 1973, Rita e a cantora Lúcia Turnbull formam a dupla acústica "Cilibrinas do Éden" e participam da Phono 73 em São Paulo. As Cilibrinas não seguem adiante, pois os ventos das mudanças ainda não haviam parado de soprar.
Ainda em 1973, Rita monta a banda "Tutti Frutti" e inicia um trabalho de fortíssima identidade pessoal, gravando discos como "Fruto Proibido", considerado por muitos como o melhor disco de rock nacional de todos os tempos. Realiza também as primeiras turnês para grandes públicos, percorrendo todo o Brasil com enorme aparato de produção, som, luz e cenografia. Nasce então a "Rita Superstar", a maior estrela do rock nacional e única a atingir tal magnitude. Performer inigualável e compositora de gênio, Rita lapida um verdadeiro maná de preciosidades, entre eles o sempre atual hino dos adolescentes "Ovelha Negra". Fazem parte desta fase canções como "Mamãe Natureza", "Menino Bonito", "Esse Tal de Roquenrou", "Coisas da Vida", "Jardins da Babilônia", "Miss Brasil 2000", "Agora Só Falta Você", "Eu e Meu Gato", "Dançar Para Não Dançar" e "Com a Boca no Mundo" .
Junto com o Tutti Frutti Rita gravou 4 discos, o último deles "Babilônia", em 1978. Antes disso porém, eis que em outubro e novembro de 1977, Rita cai na estrada com o show "Refestança" (mais tarde transformado em disco ao vivo), em que divide as honras da festa com seu amigo, mestre e compadre Gilberto Gil.
Em 1976, Rita conhece e se apaixona pela pessoa e pela música de Roberto de Carvalho, guitarrista/pianista carioca que na época atuava na banda de Ney Matogrosso. Inicia-se neste momento um romance que iria se transformar num verdadeiro manancial de criatividade, uma parceria que renderia algumas das obras mais importantes da música brasileira. Em agosto de 1976, aos 3 meses de gravidez, Rita é presa em sua própria casa, sob acusação de porte de drogas, num dos fatos de truculência explícita mais revoltantes da ditadura que vinha dominando o Brasil desde 1964. Passou um mês entre o DEIC e o Presídio do Hipódromo e depois foi condenada a regime de prisão domiciliar por um ano. O fato se transforma em escândalo nacional. Mas, se a intenção era forjar uma imagem negativa de Rita, o tiro saiu pela culatra. Nessa época ela lança em compacto o mega hit "Arrombou a Festa", em parceria com Paulo Coelho. Uma sátira bem-humorada e contundente do panorama da Música Popular Brasileira de então, que se transforma em estrondoso e polêmico sucesso.
A gravidez e os tempos difíceis servem também para consolidar a relação do casal Rita e Roberto. Cabe também a Roberto estruturar o caos administrativo em que se transformou a carreira de Rita após a prisão. Nessa época entre outras pérolas, os Lee/Carvalho compõem em parceria com Nelson Motta o super hit "Perigosa", gravada pelas Frenéticas. Em 1977 Roberto passa a fazer parte do "Tutti Frutti" e neste mesmo ano, no mês de março, nasce o primeiro filho do casal, Beto Lee (guitarrista talentoso, que vem atuando junto aos pais nos palcos desde o show "Santa Rita de Sampa").
A partir de 1979, Rita e Roberto começam a fazer discos e shows juntos - no formato "dupla dinâmica" - e inauguram uma fase superpop, de enorme empatia popular. Desenvolvem um estilo único, que se manifesta num total de quinze álbuns e extrapola as fronteiras de nosso país. Rolam mega espetáculos, diversos especiais para a TV Globo num sucesso maciço de vendas e execução em rádio. O primeiro trabalho em disco da dupla Lee/Carvalho foi o álbum "Mania Você" e o sucesso chegou para ficar em canções (além desse mega hit que deu nome ao disco) como "Doce Vampiro", "Chega Mais", "Papai Me Empresta o Carro" e "Corre-Corre" entre outras tantas.
O disco seguinte, "Lança Perfume", de 1980, é histórico. Do repertório fazem parte canções como (além da própria "Lança Perfume"), "Baila Comigo", "Nem Luxo Nem Lixo", "Orra Meu", "Shangrilá" e "Bem-me-quer". Lança Perfume estaciona por 2 meses nas paradas de sucesso da França, chega em sétimo lugar da parada da Billboard e é lançado com grande êxito em vários países da Europa e América Latina. No Brasil, Rita se transforma em "mania nacional".
Em 1981 gravam o álbum "Saúde", e o sucesso continua em músicas como a titular "Saúde", "Atlântida", "Banho de Espuma", e "Mutante". Seguem-se através dos anos hits como "Flagra", "Cor de Rosa Choque" ,"Só de Você", "On the Rocks", "Desculpe o Auê", "Vírus do Amor", "Bwana", "Pega Rapaz", "Perto do Fogo" "Livre Outra Vez", "Caso Sério", "Barata Tonta", etc...etc...etc...
Em 91, Rita e Roberto decidem interromper a parceria musical por um tempo. Rita inventa o formato precursor do hoje tão badalado "Acústico" com o show "Bossa'n'roll", de forma ousada e despojada, sucesso em todo o Brasil e depois transformado em disco de enorme sucesso. Nele Rita fazia uma releitura de vários sucessos de sua carreira em formato banquinho e violão, junto com canções inusitadas do repertório de outros artistas. Show de empatia, show de bola.
Em 93, Rita lança o CD "Rita Lee" dando uma guinada em direção a um roquenrou mais purista, onde pontificava a genial "Todas as Mulheres do Mundo".
No início de 95 Rita é convidada para fazer o show de abertura da turnê brasileira dos Rolling Stones. Convoca Roberto de Carvalho para reger a banda e realizam mega espetáculos nos estádios do Pacaembu em São Paulo e no Maracanã no Rio, ocasião em que germina o que viria ser o show "A Marca da Zorra". Realizam turnês pelo Brasil e o show vira um CD ao vivo, ganhando vários prêmios da crítica e êxito total de público. Roquenrou purista e em altíssima decanagem.
No final de 1996, Rita e Roberto se casam oficialmente depois de 20 anos de vida em comum. Também neste ano Rita se torna a primeira mulher a receber o Prêmio Shell pelo conjunto de obra, e no ano seguinte é a artista homenageada do Prêmio Sharp junto com a diva do teatro Fernanda Montenegro.
Em 1997 Rita assina contrato com a gravadora Polygram, atual Universal, e lança o CD "Santa Rita de Sampa", a parceria musical com Roberto plenamente retomada.
Em 1998 gravam o platinado "Acústico MTV", onde além de nova releitura de seus maiores sucessos, conta também com convidados estreladíssimos como Milton Nascimento, Titãs, Paula Toller e Cássia Eller. Faz uma grande turnê por todo o Brasil e alguns países da Europa. A turnê do "Acústico" se estende até o fim de 1999. Sucesso total!!!
Em 2000, de volta ao bom e velho rock'and'roll, Rita lança "3001", uma "máquina do tempo musical" produzido por Roberto de Carvalho, que em novembro de 2001 é contemplado com o Grammy Latino na categoria "melhor disco de rock".
Em 2001, Rita assina contrato com a gravadora Abril Music e, por sugestão de Marcos Maynard (presidente da Abril) grava um álbum com releituras de clássicos dos Beatles. O repertório, escolhido a dedo em meio a tantos sucessos dos 4 Fabs, é composto por 14 músicas, entre elas três versões em português. A levada predominante é a bossa-nova, mas o pop, o samba-rock, o baião e o bom humor estão presentes nas versões feitas por Rita, que deixa clara sua intenção de abrasileirar as canções dos rapazes de Liverpool. "A Hard Day's Night", "With a Little Help From My Friends", "Pra Você Eu Digo Sim" (If I fell), "All My Loving", "Minha Vida" (In My Life), "She Loves You", "Michelle", "Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar", "I Wanna Hold Your Hand", "Tudo Por Amor" (Can't Buy Me Love), "Lucy In The Sky With Diamonds", "Here, There and Everywhere", "In My Life", "If I Fell" compõem este álbum que prima pela simplicidade, bom gosto e qualidade. Com produção e arranjos de Roberto de Carvalho, e participações especiais de João Donato e João Barone (Paralamas do Sucesso), o platinado "Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar", também lançado na América Latina, rebatizado como "Bossa'n'Beatles" é igualmente sucesso no exterior.
Em outubro de 2003, Rita Lee lança 'Balacobaco'. O disco, produzido por Roberto de Carvalho, é composto por 11 faixas inéditas : "Amor e Sexo" (parceria de Rita Lee, Roberto de Carvalho, e do jornalista e cineasta Arnaldo Jabor), "A Fulana", "As Mina de Sampa", "Copacabana Boy", "Balacobaco", "Já Te Falei" (canção dos Tribalistas feita especialmente pra Rita), "Nave Terra", "A Gripe do Amor" (produzida por Roberto de Carvalho e pelo DJ Memê), "Tudo Vira Bosta" (Moacyr Franco), "Eu e Mim", "Over The Rainbow" e "Hino dos Malucos", (Rita Lee/Roberto de Carvalho/Fernanda Young/Alexandre Machado), que compõe a trilha do filme "Os Normais". Balacobaco é descrito pela crítica como "o melhor disco de Rita Lee nos últimos 10 anos" e transforma-se imediatamente em mais um sucesso na carreira da cantora.
Em pouco mais de um mês de lançamento Balacobaco é disco de Ouro. A turnê do disco 'Balacobaco' estréia em janeiro de 2004 com grande sucesso de público e crítica, lotando o Canecão (RJ) por várias noites, seguindo depois para várias cidades brasileiras, além de cidades como Lima (Peru), Assunción (Paraguai), Cidade do Porto e Lisboa (Portugal), Nova Iorque e Boston.

Depois do belo, independente e bem sucedido 'Balacobaco', Rita vem de novo nos propor a festa. Em agosto de 2004 acontece em São Paulo a gravação do 'MTV AO VIVO RITA LEE', seu 32o disco. Lançado em CD e DVD pela EMI Music entre o final de novembro e o início de dezembro, em menos de um mês, Rita Lee recebe Disco de Ouro por esse novo trabalho. Partindo das mais de 400 músicas compostas ao longo de quase 40 anos, a idéia inicial seria colocar músicas "lado B", mas para agradar muçulmanos e cristãos Rita e Roberto acharam "do bem" incluir alguns clássicos e duas inéditas: 'Meio Fio', parceria entre Roberto de Carvalho e Arnaldo Antunes, e 'Coração Babão', do casal Lee/Carvalho. Zélia Duncan e Pitty são as convidadas especialíssimas de Rita em 'Pagu' e 'Esse Tal de Roque Enrow' respectivamente). Entre os extras do DVD, um presente especial pra matar a saudade: um clipe com momentos divertidíssimos do TVLEEZÃO, programa que Rita estreou na MTV no início da década de 90. Como diz Zélia Duncan no release do disco: "Bom de tocar, delicioso de ouvir, som bem tirado dos monitores, arranjos cheios de riquezas, mais uma proeza de Roberto de Carvalho, que assina produção e arranjos, além de guitarra e vocal."
OUTRAS ATIVIDADES
Em 1986, Rita estréia seu programa radiofônico "Radioamador" pela Radio 89 FM de São Paulo e Rádio Cidade do Rio. Ficou no ar por nove meses e foi o pioneiro do humor moderno que hoje existe em grande escala por todas as rádios do Brasil.
Ainda em 1986, Rita estréia como escritora de literatura infantil na Bienal Internacional do Livro, lançando o livro "Dr. Alex". Lançou mais três livros com o mesmo ratinho Alex como personagem principal de aventuras sempre voltadas às crianças e com temática ecológica. Foram eles: "Dr. Alex e os Reis de Angra", "Dr. Alex na Amazônia" e "Dr. Alex e o Oráculo de Quartz".
No cinema, Rita e Roberto fazem uma participação no premiado filme cult "Fogo e Paixão", com direção de Isay Weinfeld e Márcio Kogan, em 1988.
Em 1989, Rita participa do filme "Dias Melhores Virão", dirigido por Cacá Diegues, e junto com Roberto compõe a trilha musical e participa do Festival de Cinema de Berlim.
Também em 1989 Rita grava como narradora e grande orquestra o famoso conto infantil "Pedro e o Lobo", de Prokofiev.

Em 1992, Rita faz o papel de Raul Seixas no curta-metragem "Tanta Estrela Por Aí", com direção de Tadeu Knudsen, numa performance surpreendente tendo recebido por ela o prêmio de melhor "ator" no Festival de Cinema em Gramado.
Também fez participações nas telenovelas "Top Model" (1990) e "Vamp" (1991) da TV Globo.
Ainda em 1991 Rita estréia na TV seu programa "TVLeezão", na recém inaugurada MTV, num total de 15 capítulos. Um dos programas mais criativos de todos os tempos na televisão brasileira, o TVLeezão era uma verdadeira salada mágica, misturando textos (de autoria de Antonio Bivar que já havia dividido com ela o Radioamador), entrevistas, e Rita exibindo uma performance de histrionismo a todo vapor, compondo diversos personagens e dando um show de desempenho. É inumerável a quantidade de programas de televisão que utilizaram e ainda utilizam até hoje "TVLeezão" como "fonte de inspiração não creditada", digamos assim.
Em 2001 Rita volta a fazer uma das coisas que mais gosta: "pontas" no cinema. A convite da diretora Ana Muylaert, Rita grava uma personagem estranha no premiado filme "Durval Discos".
Como jornalista Rita escreveu entre 99 e 2002 uma coluna na revista Leros, publicada mensalmente na Inglaterra. Entre 2001 e 2003 foi colunista da Revista da MTV.
Em janeiro de 2002, estreou a turnê do show "Yê Yê Yê de Bamba", baseada no disco "Aqui, Ali, em Qualquer Lugar". A turnê percorreu todo o Brasil e alguns países da América Latina com grande sucesso.
Entre 2002 e 2004, Rita apresentou o programa "Saia Justa" (GNT) - líder de audiência do canal - ao lado de Fernanda Young, Marisa Orth e Mônica Waldvoguel.
Em 2003 Rita Lee lançou Balacobaco, que emplacou nas rádios a música Amor e sexo, um dos maiores sucessos do ano. A turnê de lançamento do show estreou no Rio (com direito a lotações esgotadas e diversas apresentações extra) e correu todo o país. O show foi registrado em DVD e CD lançados no ano seguinte dentro da série MTV ao vivo. O show, gravado em São Paulo, teve participações de Pitty e Zélia Duncan.
O programa Madame Lee marcou a volta de Rita a TV em 2005. Misturando bate papo descontraído com humor e música, o programa foi exibido pelo canal GNT. O formato fugia dos talk-shows convencionais, com Rita e Roberto recebendo os convidados em um consultório.
Rita voltou para a estrada em 2006. Entre maio e janeiro de 2007 gravou três shows que, junto a diversas entrevistas, foram lançados no box Biograffiti. Dirigidos por Roberto de Oliveira, os três DVDs fazem um perfil e contam a vida de Rita. Em maio Rita Lee recebeu o título de Cidadã Carioca em uma cerimônia na Câmara Municipal de Vereadores.
No início de 2008 Rita Lee estreou sua nova turnê, Pic-Nic. O show faz um apanhado dos 40 anos de carreira e celebra os 60 anos de Rita.
DISCOGRAFIA
Com os Mutantes: "Os Mutantes" (68), "Mutantes" (69), "A Divina Comédia ou Ando meio Desligado" (70), "Jardim Elétrico" (71) e "Mutantes e seus Cometas no País dos Bauretz" (72) e "Technicolor" (2000).
Com Tutti Frutti: "Atras do Porto tem uma cidade" (74), "Fruto Proibido" (75) e "Entradas e Bandeiras" (76) e "Babilonia" (78).
Com Roberto de Carvalho: "Refestanca" (com Gilberto Gil) (77), "Mania de Você" (79), "Lança Perfume" (80), "Saúde" (81), "Flagra" (82), "Bombom" (83), "Vírus do Amor" (85), "Flerte Fatal" (87), "Zona Zen" (88), " Perto do Fogo" (90), "A Marca da Zorra" (95), "Santa Rita de Sampa" (97), "Acústico MTV" (98), "3001" (2000), "Aqui, ali, em Qualquer Lugar" (2001), "Balacobaco" (2003), "MTV ao Vivo Rita Lee" (2004).
Solo: "Build Up" (70), "Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida" (72), "Pedro e o Lobo" (89), "Bossa'N Roll" (91), "Todas as Mulheres do Mundo" (93).